domingo, 16 de maio de 2010

e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou


Foi-se a última lembrança viva da minha infância. Foi embora pra bem longe, para nunca mais voltar, para nunca mais ser tocada, para nunca mais ter sua presença sentida. Agora só nos resta a saudade... Saudade de tudo o que um dia foi bom, tudo que um dia foi real. Os latidos, os choros, os gritos, o som das brigas e até mesmo os últimos suspiros que deu até sua alma se desligar completamente de tudo isso que nos cerca. Assustador foi vê-la ir embora aos poucos, com a carinha de quem estava tirando um peso de si mesma, carinha de quem não aguentava mais sofrer. Triste foi ver quem ficou ali, ao seu lado, sozinho, a espera do último olhar. Olhar que vinha de olhos que não viam mais nada, mas sentiam tudo e não aguentavam mais, não queriam mais sentir, mais olhar, mais nada. Foram dez anos, apenas. Para mim, poderia ficar mais dez anos comigo, mais vinte, mais quantos anos quisesse. Mas ela não aguentava mais.
Ela também queria dormir. Dormiu, pra sempre.

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